A Modern Vampires Of The City - Prólogo


Naquela noite, Franz havia tido sonhos conturbados e inquietos. Tivera novamente o mesmo sonho que tinha desde a sua infância, o de acompanhar o seu próprio velório. O pesadelo sempre o acometia um dia antes do seu aniversário e sempre da mesma forma.

Ele sonhava que estava todo de preto e caminhava em direção ao grande salão do castelo onde vivia com os pais e quando abria as portas deste, via todos os familiares, sentados em fileiras, chorando por ele e quando mais se aproximava do centro, mais os rostos ficavam conhecidos.

Viu seu amigo Sepp Maier, brincando com um gato, ao lado deste estava o jovem que trabalhava no castelo, Gerd Müller consolando uma jovem vestida de noiva. Ao lado deles estava uma moça cujas mãos ensangüentadas e que conversava com um rapaz de cabelo rebelde, que segurava nas mãos uma pistola e ao lado deste um padre que tentava acalmar uma moça que não parava de chorar.

Quando Franz se deitava no caixão, surgia ao lado dele, uma moça de rosto delicado igual à de uma boneca. Ela olhava para ele e começava a chorar. Ao seu lado um homem com uma cara parecida como uma de rato a consolava. A moça beijou os lábios dele e ele sentiu um estranho gosto de sangue em seus lábios e sussurrou a ele: ”Eu te amo” e por fim o homem que se parecia com um rato a tirou de perto do caixão. Então, dois homens surgiram e fechavam o seu caixão.

-Franz, acorde! – ele acordou com um sobressalto e quando olhou para o lado de sua cama, viu sua mãe, segurando uma muda de roupas e o encarando assustada – Está tudo bem, filho?

-Acho que sim – respondeu ele.

-Esta suando frio – ela colocou a muda de roupa na cama, se sentou perto dele e colocou a mão em sua testa – Você não esta com febre. Acho que vou chamar o Herr Hans para saber se você esta bem!

-Mãe não precisa chamar o médico! – bufou ele – Eu estou bem, eu só tive um pesadelo! Aquele mesmo pesadelo que eu sempre tenho antes do meu aniversário!

-Aquele em que você vê o seu próprio velório? – perguntou ela, um pouco preocupada.

Ele balançou a cabeça em sinal de sim.

-Não precisa ter medo, como você tinha quando era pequeno – ela segurou as mãos na cabeça dele e beijou sua testa calmamente – Agora já é um homem e hoje completa mais um ano de vida! E ainda terá que decidir com quem irá se casar e largar a boemia!

- M- a-as eu não sou boêmio! – ele retrucou. Será que Sepp contou a ela tudo o que fazíamos em Berlim? , pensou ele um pouco intrigado.

-Sei bem – ela lhe deu uma piscadela e lhe entregou a muda de roupa – Vá se aprontar, Sepp esta te esperando no salão.

Ela saiu de seu quarto e Franz fora se levar e se aprontar. Lavou-se e vestiu a muda de roupa, saiu de seu quarto, desceu calmamente as escadas e foi ao encontro dos pais e do amigo no salão.

- Feliz aniversário – Sepp o abraçou – Vinte e cinco anos, já esta ficando velho!

-Que nada – respondeu Franz – ainda temos muito tempo para aproveitar a vida!

- Não hoje – disse seu pai – Não quero que você saia dessa propriedade hoje.  O baile começara às sete horas em ponto e quero você para receber seus convidados!
 
-Mamãe não pode fazer isso? – perguntou Franz, enquanto tomava um gole de café que fora lhe servido.

-Hoje você é o anfitrião Franz! – respondeu ela.

Ele deu os ombros e virou-se para Sepp e perguntou.

-Onde está Gerd?  - Gerd Müller era o filho mais velho do zelador do castelo e crescera ao lado de Franz e Sepp. Os três na infância eram chamados dos os Três Mosqueteiros, pelo fato de sempre estarem juntos e também, era o livro favorito de Franz.

-Esta falando com os pais dele, sobre o noivado dele.

-Noivado?       
          
-Sim, aconteceu isso ontem à noite.

- Quer dizer que ele não voltará para Berlim conosco?

-Possivelmente não.

Os dois terminaram café e foram ao encontro de Gerd Müller nos jardins do castelo.  

-Casar? Não ia voltar conosco para terminarmos os estudos juntos? – perguntou Franz.

-Eu já sou formado em Engenharia – respondeu Gerd – Fiquei estudando durante a noite, em vez de sair e conhecer Berlim!

- Isso só foi umas duas vezes – respondeu Franz – Mas mesmo assim, eu me formei em História e Educação Física, enquanto Sepp se formou em Agronomia!

-Aliás, quem é a sortuda? – perguntou Sepp.

- Uschi Ebenbock – respondeu Gerd.

-A filha do dono daquela grande confeitaria que tem no centro da cidade? – perguntou Sepp.

-Ela mesma – respondeu Gerd – Eu tomei chá com ela uma vez, no verão passado, mas não sabia que iríamos nos casar.

-Bem, depois da minha festa de aniversário – disse Franz – Vamos decidir quando vai ser a sua despedida de solteiro!
***
Os McGolds e os Smiths partiram juntos para Munique a fim de tratar negócios com ricas famílias da região. Os irmãos McGold, Robert e Anthony, deixaram junto com Eddard Smith, seus filhos homens cuidando dos negócios das famílias, enquanto viajavam com suas esposas e filhas.

As primas Felicity e Louise McGold foram acomodadas numa cabine de trem, junto com Nora Smith, enquanto seus pais foram em outro.

-Estas viagens de trem são tão patéticas – suspirou Louise, enquanto observava o movimento da plataforma de trem, se abanando com um leque.

-Então por que veio? – perguntou Nora, enquanto preparava o tabuleiro de xadrez para jogar com Felicity. As eram amigas desde a tenra infância e desde o último verão as duas não se viam desde o ano passado, já que Nora estava passando um tempo com os pais de sua prima Angela e aproveitou essa viagem para se conversarem sobre tudo o que fez nesses últimos tempos.

-Segundo meus pais é bom que eu tenha uma grande cultura de mundo – respondeu Louise – Para quando precisar viajar com o meu marido!

- Fique calma Lulu! – disse Felicity, arrumando as peças no tabuleiro – Você só se casa na próxima primavera, ainda tem bastante coisa pra aprender com o mundo!

-Não me chame de Lulu! – gritou Louise – Você sabe que eu odeio que me chamem por esse apelido infantil!Ah perturbada, ninguém pediu sua opinião sobre o que eu devo ou não aprender para o meu casamento.

Louise estava prometida em casamento com Richard Wright, filosofo e herdeiro de um grande império industrial da região central de Londres. Por mais que o casamento se aproximasse, ela demonstrava vontade nenhuma de decidir nenhum detalhe sobre este, preferindo sempre sair parar comprar roupas ou chapéus.

-Ei! Não fale assim de Felicity – disse Nora.

-Ela é minha prima e eu a trato ela do jeito que eu quero! – nesse momento o vagão se mexeu e Louise e bateu a cabeça na janela – Ai minha cabeça!Acho que vou morrer!

- Ela mereceu – disse Nora. Felicity deu um pequeno beliscão em Nora e esta continuou a rir ainda mais.

-Eu acho que vou morrer! – Louise começou a chorar, enquanto afagava o lugar onde batera a cabeça – E assim não vou poder me casar com Richard!

O vagão se mexeu de novo e Louise bateu a cabeça de novo. Nora acabou caindo no chão de tanto rir e acabou se transformando em uma gata.

-Meu deus do céu! – gritou Louise – E-e-la virou uma gata?

-Acalme- se Lulu – Felicity pegou a gata nos braços e começou a brincar com ela – Ela é uma bruxa.

-C-c-como ela virou uma gata? – perguntou Louise ainda assustada.

-Ela é de um clã de bruxos chamados animagos – respondeu Felicity – Cada um de sua família tem o poder de se transformar em um animal patrono e Nora escolheu ser uma gata, já que ela ama gatos.
Nora pulou no banco onde Louise estava sentada, começou a se aproximar calmamente dela, enquanto ela se encolhia no banco. Nora a encarou por um instante e mexeu seu pequeno nariz e Louise começou a falar “oinc” como um porco e em seu nariz começou a surgir um focinho de porco.

-Oinc! Mande! Oinc! Ela! Oinc!Isso! Oinc! Da minha cara! – gritou Louise.

Felicity não conseguia para de rir. Nora voltou para o lado de sua amiga e voltou a sua forma humana e desatou a rir também.

-Acho que ela já aprendeu a lição – disse Felicity, quando ela conseguiu parar de rir.
Nora mexeu seu nariz de novo e Louise voltou ao seu normal, enquanto as outras duas ainda continuavam a rir de Louise.

-Espere só até meu pai ficar sabendo disso! – bufou Louise.

-Mimimi a princesinha virou uma porquinha e o papai dela vai ficar irritado – brincou Nora – Ele nunca vai saber disso!

-Mas eu vou fazer questão de contar pra todo mundo – gritou Louise.

-Ninguém vai acreditar em você! – retrucou Nora, gritando mais alto ainda.

- O que esta havendo aqui?! – gritou Robert McGold, entrando na cabine com seu irmão Anthony e Eddard Smith – Estamos ouvindo escutando os gritos das três do outro vagão!

-Queremos saber o que se passa aqui! – gritou Anthony.

-Nora me fez bater com a cabeça na janela, virou uma gata e ainda transformou meu nariz num focinho de porco! – contou Louise.

-Como pode dizer uma coisa dessas sobre a menina? – disse Robert.

Nora acabou vomitando uma bola de pelos nos pés de seu pai, este tirou de seu bolso um pano e limpou a bola de pelos do chão.

-O que eu disse sobre as transformações Nora? – falou ele – Você ainda não esta totalmente preparada!Vá com calma da próxima vez, se não você volta para a Escócia!

-Tudo bem, papai – respondeu ela, abaixando a cabeça.

-Ela tem que ir para Escócia agora! – gritou Louise- Não quero ficar no mesmo lugar que essas malucas!

-Calada Louise! – gritou Anthony – Como vocês esperam agradar o filho do Conde Beckenbauer desse jeito?

-Mas eu já sou noiva! – gritou Louise.

-Sua prima e Nora ainda não! – respondeu Robert – E esperamos que nessa viagem pudéssemos encontrar bons maridos para as duas!

-Elas não arrumam maridos porque são esquisitas! – gritou novamente Louise – Lembra-se tio? Daquela festa do chá que aconteceu em minha casa e que um espírito apareceu e a pertubadinha ai ficou falando que muitos ali iriam sucumbir de uma doença e morreriam dentro uma semana e todos morram mesmo, se lembra? E que alguém disse que nem morta alguém iria querer ela?

-Agora já chega! – gritou Ned. Ele proferiu algumas palavras em latim e Louise acabou adormecendo no banco da cabine.

-Por quanto tempo ela dormirá? – perguntou Anthony.

-Até chegarmos a Paris para tomarmos o outro trem – respondeu Ned, este se virou e encarou a filha e sua amiga – E vocês duas, se comportem!

Os três saíram da cabine, deixando elas sozinhas.
***
Antes do baile, sua mãe resolverá que Franz deveria tomar chá com algumas de suas pretendentes. Gerd e Sepp o acompanharam nesta estranha empreitada que sua mãe lhe meteu.

-Não seria melhor eu as conhecê-la à noite? – perguntou ele.

-Melhor você as conhecê-las agora – respondeu ela, arrumando o casaco dele – E a noite você terá uma escolhida!

As escolhidas foram três inglesas de famílias ricas do ramo industrial e agropecuário, as primas Felicity McGold e Louise McGold e a amiga delas, Eleonora Smith.

-Er. como foi a viagem de vocês até aqui? – perguntou Franz.

-Patética – respondeu Louise – Odeio viajar de trem.

-Compreendo – respondeu Gerd Müller – Mas do que vocês gostam?

-Eu adoro gatos! – respondeu Nora.

-Fraülein disse gatos? – perguntou Sepp Maier.

-Sim – exclamou Nora numa imensa felicidade.

-Eu também – respondeu Sepp – Gostaria de dar um pequeno passeio, fraülein? Eu gostaria de lhe mostrar os gatos que vivem nesta propriedade.

-Eu adoraria! – Nora respondeu. Sepp se levantou e ajudou a Nora a sair da pequena cadeira onde ela estava sentada, ele lhe estendeu o braço direito e esta o enlaçou com seu braço ao dele e juntos saíram andando pelo grande jardim do castelo.

Os outros quatro acabaram ficando em silêncio.

-Então – disse Franz – Por que todos nós não damos um passeio também?

Franz e Felicity foram caminhando e conversando, enquanto Gerd e Lulu foram atrás.

-Então, a fraulein esta comprometida? – perguntou Gerd.

-Estou sim – respondeu Louise rispidamente – e meu noivado não é da sua conta!

-Desculpe pela minha prima. as vezes...ela é tão ríspida com as pessoas – disse Felicity calmamente a Franz – meus...tios..as vezes mimam ela demais, sabe?

-Compreendo bem – respondeu Franz. Deus como essa moça é calma demais, ela não podia ser um pouco mais ágil? Pensou Franz.

-Parece que seu amigo, gostou da minha amiga – Felicity apontou para Nora e Sepp brincando com alguns gatos perto de um canteiro de flores.

Franz e Felicity caminharam um pouco e acabaram voltando para a mesa onde estavam tomando chá. Já Gerd e Lulu ainda caminhavam pelo jardim, brigando um com o outro feito gato e rato, enquanto Felicity pedia milhares de desculpas a Franz pelo comportamento da prima.

-Franz querido, pode vir aqui? – chamou sua mãe calmamente.

-Com sua licença, fraülein – disse ele a Felicity.

Ele caminhou calmamente até sua mãe e esta ainda calma disse a ele:

-Quero que beije a moça antes que ela vá embora.

-E-eu não vou fazer isso! – respondeu ele – ela é estranha demais! Peça a Sepp pra fazer isso!

-Franz você não é mais uma criança para desobedecer uma ordem minha! Consegui com que Sepp se case com a menina que gosta de brincar com gatos e estou quase conseguindo com que você se case com esta! – respondeu ela rispidamente – ou você faz o que eu digo, ou sofrer a ira de seu pai!

Relutante ele voltou à mesa e continuou a tomar chá com Felicity, pouco depois sua mãe voltou a chamá-los para avisar que os visitantes iriam embora. Ele a ajudou a se levantar e voltou a caminhar de braço dado com ela.

-Fraülein, antes de ir, quer lhe dar algo de presente – Franz puxou Felicity para perto de si e lhe deu um beijo. Felicity soltou-se dos braços dele e o encarou com uma expressão horrorizada no rosto – O beijo foi tão ruim assim?

-Não, foi ótimo – respondeu ela – mas seu futuro, ele será tenebroso demais!

- Meu futuro?

-Sim! – respondeu ela, ela tocou levemente os lábios dele e ele acabou afastando – Seus lábios se tornaram frios como o inverno e você bebera somente sangue! Vi também morte, muitas mortes. Matarás muitas pessoas que estão a sua volta e até pessoas que não são daqui. Uma moça entrará que você conhecerá hoje mudara o destino de todos nós! E uma guerra contra um rato esta por vir!

Franz ficou assustado. Algo dentro de si dizia que a moça não havia gostado daquele beijo e estava inventando todas aquelas atrocidades sobre ele. Entretanto, ele achou que ela poderia estar dizendo a verdade e que ele se tornaria um vampiro em breve, mas acabou preferindo esquecer. Despediu-se dela, de sua prima mimada e da amiga delas e foi se encontrar com seus amigos.

-Aquela moça, como ela se chamava? Louise? – disse Gerd – ela devia ser muito mimada por todos!

-Sim, é verdade – concordou Franz – Por isso mal conversei com ela.

-Mas que ela é linda como anjo – respondeu Gerd.

-É o que dizem – disse Sepp – Alguns anjos tem o demônio dentro de si.

-É melhor você esquecê-la – disse Franz – os dois estão comprometidos!

-Você tem razão – respondeu Gerd, num tom triste – e você viu Franz, Sepp estava beijando aquela outra moça inglesa?

-Não soube disso não – Franz começou a rir junto com Gerd – Minha mãe veio me dizer que talvez conseguisse que você fique noivo com ela, Sepp!

-Disso eu não estava sabendo – respondeu ele – mas tudo o que eu sei que é aquela menina era bem encantadora e um pouco maluquinha!

-Pelo menos vocês se deram bem – disse Franz – Pior fui eu tendo que beijar uma maluca que disse que eu iria virar um vampiro!

-Um vampiro? – indagou Gerd.

Franz lhes contou sobre como deu um beijo em Felicity e de sua estranha previsão.

-Talvez ela queira que você se lembre dela hoje à noite – disse Gerd.

-Ou talvez ela tentasse pregar uma peça em você - disse Sepp – Mas de certa forma você terá mais opções para futuras esposas, então não se preocupe!


-Talvez ela esteja certa – respondeu Franz – Talvez hoje à noite eu vá conhecer o amor da minha vida, que vai mudar o destino de todos nós.

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