Drabble:Antes do pôr-do-sol



Em comemoração ao aniversário de um dos meus jogadores favoritos, Michel Platini, que completa 65 anos nesse domingo (21). E aqui fica a minha pequena homenagem.



1983

A viagem de trem de Roma para Turim de trem era de mais de 5 horas, mas ela não se importava com esse empecilho.

Paloma aproveitou aquele período para fazer a releitura do livro Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brönte. Ela havia lido esse livro na época em que estava no Ensino Médio e achou que aquele momento fosse apropriado voltar a esta obra.

Acomodada num vagão simples, num banco próximo à janela no lado esquerdo, ela percebeu que no banco do lado direito, um homem de cabelos encaracolados rebeldes pretos, lia concentrado Madame Bovary de Gustave Flaubert, enquanto fumava um cigarro.

 Sem perceber, ela se pegou observando o rapaz. “Ele tem jeito de conhecido”, pensou ela e retornou à leitura.

Quando chegou a parte onde Catherine se casava com Edgar Linton, ela resolveu fazer uma pausa para tomar um café, no vagão restaurante do trem.

Ela passou ao lado do rapaz e os olhares de ambos se encontraram. Ela sentiu suas maçãs do rosto enrubescer, igual a uma adolescente. Caminhando para os outros vagões, Paloma se pôs a pensar aonde já havia visto aquele rapaz.

“Será que ele ator? Ou modelo?”, pensou ela mais uma vez, enquanto bebericava o cappuccino que pediu, enquanto olhava as paisagens italianas.

Quando voltou para seu assento, Paloma encontrou no banco um bilhete ao lado de uma rosa vermelha.

Ela abriu cuidadosamente o papel e notou que estava em francês. Mesmo sendo fluente na língua, ela leu com cuidado com cuidado casa frase e palavra.

“Não pude deixar de reparar em sua leitura, é um livro incrível. Gostaria de tomar um café comigo?
                            Michel”.

Paloma sorriu de um jeito bobo e olhou para o rapaz.

-Eu adoraria – respondeu um pouco corada.

Ambos sorriram e foram juntos em silêncio até o vagão restaurante do trem. Acomodaram-se em uma mesa um pouco afastada, pediram dois cappuccinos e tornaram a conversar sobre os livros que andavam lendo, música e seus trabalhos.

-Então você vai fazer a nova campanha da Fiat? – questionou ele.

-Sim, é a primeira vez que trabalho com carros – respondeu ela, enquanto bebericava sua bebida. – É um novo desafio para mim.

-Interessante. – respondeu ele. – Meu chefe também trabalha para essa companhia.

Os dois riram e continuaram a conversa. Até que um homem parou ao lado de Michel.

-Não acredito! – berrou o homem. – É Michel Platini, jogador da França!

Quando ficaram sozinhos novamente, ele ascendeu mais cigarro e compartilhou com ela.

-Meio incomum um jogador de futebol fumar. – ela comentou, depois de uma tragada.

-Será um segredo nosso, Paloma. – respondeu ele, com um sorriso.
O pôr-do-sol adentrava o vagão. Ambos perceberam que estavam próximo do destino e ela sentiu que não queria descer daquele trem.
Quando desceram na estação, Paloma tomou coragem e roubou um beijo daquele famoso jogador de futebol.
-Janta comigo? – perguntou ele, ofegante depois do beijo.

-Eu adoraria. – respondeu ela.

Deram as mãos e caminharam para as ruas de Turin.
*** 2020
Depois de 37 anos, uma Eurocopa, algumas copas do mundo, capas de revistas, filhos, a presidência da UEFA, uma prisão e uma netinha, Michel e Paloma tomavam café da tarde, em sua residência em Paris.
Observavam o fim de tarde do jardim e planejavam a vida depois que saíssem do isolamento social, devido à pandemia do coronavírus.

Ele a contemplou por um momento, lembrando-se do primeiro dia que a conheceu, naquela viagem de Roma a Turim.

Adorava observa-la contemplando o pôr-do-sol e aquilo fazia ele se apaixonar ainda mais.
Entrelaçaram as mãos e sorriram um para o outro.






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